Billy Blanco, o maior cronista musical brasileiro.


William Blanco veio ao mundo com o sobrenome Abrunhosa Trindade, em 8 de maio de 1924. Belém do Pará foi o berço. Logo em 1946 ingressou no Mackenzie College, São Paulo. Pouco depois foi para o Rio de Janeiro onde se graduaria em arquitetura – 1950.
Billy Blanco seria o apelido. Com Tom Jobim escreveria a Sinfonia do Rio de Janeiro (1954) e vinte anos depois, sozinho, escreveria Paulistana, a sinfonia de São Paulo, assinada em 1974.
A meu ver é o maior cronista popular do nosso tempo - cronista como letrista de música popular. Nas mais de cem composições que assinou, o humor e a genialidade sem metáforas, comparado ao talento inefável de Noel Rosa, revela o simples e o belo, sem enfeite e sem frescura. Billy Blanco é mestre em escrever e compor.
Rio do meu amor, lançada em 2002, é uma das maiores obras primas sobre a cidade do Rio de Janeiro. Bem maior que o Maracanã, a tropicália e todo o cinema novo reunidos. Incomparável. Pouquíssimos conhecem as canções do Billy, pouquíssimos conhecem o Billy Branco, pouquíssimos conhecem a Paulistana - Sinfonia de São Paulo.

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Paulistana - Sinfonia de São Paulo - Billy Blanco

Sinfonia Paulistana
Composição: Billy Blanco
Fazendo som com as estrelas, ligado no sideral. Por Maria, fez poemas, nas praias do litoral. As ondas contaram ao mar, por isso é que os oceanos no mundo inteiro cantados, cantarão mais cem mil anos. E o homem entre mar e céu, tem canções por todo lado. Louvado seja Anchieta, pra sempre seja louvado.
Navegante tem cantiga, que aprendeu no mar um dia. Qualquer rota que ele siga,
se não canta, ele assobia. Cabelos cor da noite, pele de alvorada, cacique
entregou ao branco, a filha amada.
Raízes de Brasil, chegaram até aqui. Abençoado o colo dessa mãe antiga
por 400 anos feitos de cantiga, naquele doce embalo da canção Tupi.


Na tez de uma paulista em cheiro de floresta,
a cor de jambo é a índia, que ninguém contesta.
De uma altivez que o Império nunca vira,
é a tradição, é a raça, é a nossa origem.
As coisas da história de São Paulo exigem
a honra que se faça ao nome de Bartira, Bartira.
Era tudo, era o nada rio acima que o paulista no peito ia vencer, pra fazer
mais Brasil do que existia. Já um tempo era pouco pra perder reunindo oração e despedida na partida da horda triunfal. Caçador da esmeralda perseguida foi
fazendo a unidade nacional. Bandeiras, monções.



Já se dava por glória ao que se ia porque mal se sabia se voltava.
E a benção levada já servia de unção para quem por lá ficava.
Nas monções quem seguia, na verdade já partia cheirando à santidade.
Quem não via esmeralda ou não morria, povoava cidade mais cidade.
Bandeiras, monções...
São Paulo que amanhece trabalhando, São Paulo, que não sabe adormecer,
porque durante a noite, paulista vai pensando nas coisas que de dia vai fazer.
São Paulo, todo frio quando amanhece. Correndo no seu tanto o que fazer.
Na reza do paulista, trabalho é Padre-Nosso, é a prece de quem luta e quer vencer.


Bastante italiano, sírio e japonês, além do africano, índio e português.
Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça. Na capital do tempo,
tempo é ouro e hora. Quem vive de espera, é juros de mora.Não tem mais-mais
nem menos, ou é sim ou não. No máximo se espera pela condução.
Nas retas da Rio-São Paulo, chegando, chegando eu vim. Paulista é quem vem e fica plantando, família e chão, fazendo a terra mais rica, dinheiro e calo na mão.
Dinheiro, mola do mundo, que põe a gente na tona, leva a gente ao fundo.
Sim, senhor, sim, senhor, sim, senhor. Faz a paz e a guerra, traz a Lua pra Terra
No mais aumenta a barriga do comendador. Dinheiro, juras e juros, erguendo todos os muros pra ele próprio depois, derrubar, derrubar.
É a voz que fala mais forte, razão de vida e de morte.
Também só compra o que pode comprar.


São Paulo, que amanhece trabalhando. Casais entram no elevador.
O fino pra curtir um som: ran ran, ren ren, ron ron. A noite é sempre uma criança,
é só não deixar crescer. Assim existe esperança, no amanhecer. São coisas da noite, anúncios conhecidos. Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos. Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for, do La Licorne ao Ceasa, de alguma coisa do amor
Tem sempre mais um, que vem pela calçada, na bruma que esconde quem sobrou na madrugada.
Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá. Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá.
Olha o Sol, olha o Sol, cadê o Sol? Onde o Sol? Sumiu, sumiu, sumiu...



Quando amanhece, o Sol comparece por obrigação, nublado, cansado, um Sol de rotina
Se bem ilumina, nem dão atenção. É que o bandeirante não perde o seu tempo
Olhando pro alto. O Sol verdadeiro está no asfalto, Na terra, no homem e na produção.
A cor diferente do céu de São Paulo não é da garoa. É véu de fumaça, que passa, que voa
Na guerra paulista das mil chaminés. São Paulo, que amanhece trabalhando.
Começou um novo dia, já volta Quem ia, o tempo é de chegar. De metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro, melhor, vou faturar. Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer.
Vai o paulista na sua, para o que der e vier. A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição. Porque tudo se repete, são sete e às sete explode em multidão:




Portas de aço levantam, todos parecem correr. Não correm de, correm para, para São Paulo crescer. Vão bora, vão bora, olha a hora,vão bora, vão bora. Vão bora, vão bora,
Olha a hora, vão bora, vão bora, Vão bora... Que o tempo não espera, a vida é derradeira
quem é vai ser, já era de qualquer maneira o mundo é do "eu quero"
Quem me der é triste, tristeza basta a guerra. E o adeus no amor.
Você onde é que estava quando o tempo andou? Na terra que não pára, só você parou
Vão bora, vão bora, olha a hora. Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora, olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora... O que vale é a versão, pouco interessa o fato
Porque a sensação maior é a do boato. Em coisa de um segundo, noite é madrugada,
notícia ganha o mundo, e a gente não é nada. Você onde é que estava quando o tempo andou? São Paulo nunca pára, mas você, parou. Vão bora, vão bora, olha a hora.
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora, olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora.




São Paulo que amanhece trabalhando.
Na Praça do Patriarca, na rua Direita, São Bento, na Líbero Badaró, no Viaduto do Chá
lá está aquele moço, que não dá ponto sem nó. Na conversa bem jogada, vai vendendo geladeira pra esquimó curtir verão. Papo firme é isso aí, desse dono da calçada, rei da comunicação. Olhe aqui, dona Teresa, o produto de beleza que chegou da Argentina, examina, examina! De brinde pra seu marido, nova pomada pra calo que resolve a dor de ouvido. Tem Parker 73, compre uma e ganhe três, nem paga o justo valor, mais outra ali pro doutor. Leve a lei do inquilinato, mesmo não sendo inquilino, morar na lei é um barato. E ele prova à sua maneira que um ataque de besteira, faz de um doutor um otário.
Cursando numa avenida o vestibular da vida para ser bom empresário.



Ser do São Paulo, do Corinthians e Palmeiras é ter o fino em futebol durante o ano.
Em tênis, remo, natação, nas domingueiras bom é Pinheiros, Tietê ou Paulistano.
Com Ademir, com Rivelino no gramado, com rei Pelé e suas jogadas de veludo,
Não é de graça que São Paulo é chamado: melhor da América Latina em quase tudo.
Pró-esporte, pró-esporte é a solução. Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição.
Lá por setembro o estudante nos ensina aquele esporte pelo esporte que não cede.
E o meu Mackenzie, dá um show com a medicina na grande guerra que se chama MacMed.
No corre-corre mundial estamos nessa, os Fittipaldi estão aí para dizer:
Só em São Paulo que é a terra do depressa a São Silvestre poderia acontecer.
Pró-esporte, pró-esporte é a solução. Pró-esporte, pró-esporte contra a poluição.


São Paulo jovem, dos que promovem velocidade. Nos seus cavalos, de roda e ferro,
na sua forma de liberdade, o peito agarra a costa de aço que deu garupa na Yamaha, no upa-upa, feito de abraço e muito amor. São Paulo jovem, na mesma cela vão ele e ela, por onde seja. Deus os proteja, pelos caminhos da vida em flor. Tem coisas da Ipiranga, da Itapetininga, até da São João. Às vezes também dá puxar o show, o chope, o uísque, boa pinga e o molho das mulheres que transam por lá. Tem loja, tem butique,
tem pizzaria, boate, restaurante, até casa lotérica é rua que de nada mais precisaria.
Com todo aquele charme do Jardim América, rua Augusta. E agora já é hora E ninguém vai embora, embora de lá. Rua augusta, e agora, já é hora E ninguém vai embora, embora de lá.



Bartira e João Ramalho nunca imaginaram que a tanga e a miçanga vinham outra vez.
Agora nos diriam vendo que acertaram: Valeu o nosso amor, pelo amor de vocês.
E a moça vai passando, e ninguém vê mais nada. Quando ela vai na dela, é pra machucar.
É a paulistana boa, despreocupada, de short ou minissaia, pondo pra quebrar, pra quebrar
Rua augusta, e agora, já é hora. E ninguém vai embora, embora de lá.
Na sinfonia, que é de todos os barulhos... De Santo Amaro, ao Brás, ao Centro, ao ABC.
Por Santo André, Vila Maria até Guarulhos, grande São Paulo, como eu gosto de você.
São Paulo, que amanhece trabalhando, São Paulo que não pode amanhecer, porque durante a noite, paulista vai pensando nas coisas que de dia vai fazer.

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